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I L M E D E 6 2 |
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Vocês sabiam que a história da batalha entre
os 300 guerreiros espartanos e poderoso
exército persa já teve um filme no ano de
1962? Não apenas existiu o filme, como ele
serviu de inspiração para que Frank Miller
escrevesse a história em quadrinhos que
originou a superprodução dirigida por Zack
Snyder. “Eu fiquei chocado, porque os heróis
morriam. Estava acostumado a ver o
Super-Homem socando planetas. Foi uma
epifania perceber que o herói não é
necessariamente o cara que vence”, lembra
Miller. “Como escritor eu tendo a criar
personagens que podem morrer esgarçados pelo
mundo, que perdem os combates mas conquistam
a vitória moral”, completa o autor da
graphic novel.
“Os 300 de Esparta”, de 1962, produção da
20th Century Fox, é dirigido por Rudy Mate
(que também escreveu o roteiro, ao lado de
George St. George), e Richard Egan no papel
de Leônidas; Sir Ralph Richardson como
Themistocles; David Farrar como Xerxes;
Diane Baker como Ellas; Donald Houston como
o fiel guarda de Xerxes, Hydarnes; e John
Crawford como o espião de Esparta, Agathon.
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O
filme em questão é baseado nos textos em que
o historiador Heródoto narra a Batalha de
Termópilas. È mais do que claro na produção
as fragilidades da época: os efeitos
especiais inexistem – muitas vezes é usado o
velho truque de mostrar um personagem
atirando uma lança, há o corte, e na outra
tomada a vítima é atingida com a arma
(quando na verdade, percebe-se que o ator a
escondeu debaixo do braço) -, não há
figurantes suficientes de modo que em nenhum
momento temos noção dos 300 de Esparta, e
muito menos dos mais de um milhão de Persas,
etc. Se comparado a épicos contemporâneos
deste “Os 300 de Esparta” como “Spartacus”,
de dois anos atrás, e principalmente, “Ben-Hur”,
de três anos atrás, a inferioridade é
visível.
O visual é bem realista, e longe da mistura
de realidade com fantasia abordada por
Miller em sua HQ. Inclusive o visual do
imperador Xerxes é de um homem normal da
época, e não aquele ar carnavalesco cheio de
piercings por todo o corpo e cabeça raspada.
Para a época, pode se dizer que a direção de
arte é primorosa, com armaduras e armas bem
desenhadas, e mesmo com cenários precários,
houve a preocupação em manter-se fiel aos
detalhes de caracterização, a começar pelo
fato de todas as locações terem sido na
Grécia.
O foco do filme é unicamente a batalha em
si, e os dias que antecederam, mostrando a
rotina de alguns soldados que se preparavam
para o combate. De certa forma, é uma baixa
do roteiro não mostrar a cultura dos
espartanos, seus treinamentos desde crianças
(algo que é apenas citado de relance em um
diálogo entre Agathon e sua noiva). Mesmo
assim, não deixa de ser interessante
conferir todo o contexto da guerra, a
expansão massiva dos persas e seus
fanatismos religiosos, e principalmente, a
bravura dos espartanos. E detalhes
importantes não foram esquecidos, como fato
de o personagem Agathon, prisioneiro de
Xerxes, ser poupado da morte para que
pudesse voltar a seu lar e informar aos
espartanos do número bastante superior de
soldados do exército rival. Também, as
possibilidades de ajuda dos espartanos por
exércitos vizinhos, que por infelicidade de
percurso não puderam ser obtidas, foram
muito bem destacas e possuem uma grande
importância para que a trama se desenrole
até o clímax. |
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O
modo como a coragem dos espartanos é
abordada é tão bem feita, que é entendível o
porque Frank Miller se interessou tanto pela
história. Por sinal, é bom ressaltar que o
já clássico diálogo “- Nossas flechas
encobrirão o sol! – Então lutaremos na
sombra” foi usada pela primeira vez neste
longa. É impossível não entrarmos no clima e
torcermos bravamente pelos espartanos,
mediante a confiança do Rei Leônidas (vivido
de maneira firme por Richard Egan, de modo
que transmite ao mesmo tempo um ar de
liderança e fraternidade). E Leônidas é
tratado pelo roteiro de maneira objetiva: um
ser extremamente zeloso por sua família, mas
que quando o assunto é lutar pelo seu país,
não teme em ir à luta até mesmo antes da
hora ideal, e independente de números ou
condições físicas de seus guerreiros.
Realmente chegamos a acreditar que os meros
300 terão chances contra o império persa,
pois o longa ressalta muito suas habilidades
e inteligência única. O momento em que eles
atacam de surpresa o alojamento persa a
procura de Xerxes, e em seguida incendeiam o
local, é realmente impressionante! E o
roteiro não falha no desenrolar dos fatos,
apresentando os motivos pelos quais Xerxes,
mesmo impressionado com a força dos
espartanos, se recusa a recuar suas tropas –
momento em que a guerra para ele deixa os
cunhos políticos e vira uma vingança
pessoal. |
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Apesar das fragilidades cinematográficas de
1962 (a tal chuva de flechas é tão fraca que
não surte nenhum impacto no espectador), o
filme consegue transmitir a agonia da
batalha com cenas bem conduzidas, como o
momento em que, enquanto os exércitos
inimigos correm um em direção ao outro para
guerrearem, um soldado quase kamikaze
finge-se de morto entre eles para poder
atear fogo no caminho. Cenas não tão fortes,
mas chocantes, como a de um soldado tendo
sua ferida cicatrizada através de um ferro
em brasa.
Quando enfim chega o clímax, já sabemos o
final, mas mesmo assim, a lição de coragem e
força em nome de uma nação é transmitida
corretamente. Sorte nossa de Frank Miller
ter visto nesse filme tamanho valor, para
que futuramente obtivéssemos a mesma
história com visual renovado e tecnologia de
ponta. A coragem de Rei Leônidas e sua tropa
realmente não merecia ficar esquecida no
passado.
Por THIAGO SAMPAIO |
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